quarta-feira, 9 de maio de 2012

É isso mesmo?

Há tempo que não publico um texto sobre currículo aqui no blog. Sei também que o fato de estar envolvida com o texto da qualificação não serve como desculpa para tal fato,mas vou escrever hoje sobre algo que anda me tirando sono e me deixando bastante preocupada. Resolvi escrever  sobre um espinho que apareceu em meio minhas reflexões, espinho dolorido e que me deixou em posição complicada.
Sempre leio e escrevo sobre a importância da Física para a formação do aluno, para que dessa forma, fique evidente ao mesmo que não se trata de um  conhecimento inútil, ou que serve apenas para lhe fazer tirar notas baixas, ou terá utilidade apenas para os cientistas. 
Além de falar sobre a importância da Física, escrevo muito sobre seu objetivo principal que é possibilitar ao aluno sua alfabetização científica e tecnológica dentro de uma perspectiva ampliada, fazendo-o além de possuir conhecimentos científico-tecnológicos, possuir conhecimentos sobre seu papel real na sociedade. É importante que ele tenha noção de que suas decisões acarretam impactos não só em sua vida, mas de muitos envolvidos no mesmo ambiente que ele. Além de que, é importante saber que as decisões a cerca de assuntos científicos e técnicos não devem ficar apenas a cargo de experts, mas toda população tem sua responsabilidade e direito nessas decisões, desde que pautadas em fundamentos que a possibilitem exercer seu direito com responsabilidade crítica.
Outro ponto de destaque, que sempre aparece em meus escritos, artigos, é que esse trabalho pode ser desenvolvido em sala de aula de diversas formas, e uma delas, a que sempre defendo e estudo, é a contextualização e suas perspectivas de implementação.
Claro que nesse ponto surge outro fator relevante: preparar o professor para que o mesmo saiba como desenvolver trabalhos dessa natureza em sala de aula.
Como disse, até aqui nada é novidade.Mas, estive refletindo e percebi que, todos os textos são sempre em defesa do aluno, de fazê-lo entender a importância da Física e "ensinar" o professor a contextualizar suas aulas para que elas se tornem "atrativas aos olhos dos alunos".
E o professor? onde entra na jogada? Ele se torna apenas o robozinho que aprenderá como desenvolver um trabalho "x", utilizará em suas aulas por um período "y" ou em algumas aulas "w" e depois voltará a agir como sempre agil dizendo: os alunos não querem mesmo nada com nada?
Ou melhor: Por que isso acontece? Será que as justificativas dos textos não são suficientes?
Aí que apareceu meu espinho: Sempre ouvimos que os professores estão desmotivados, os alunos não são mais comportados como "antigamente", o salário então... aff! assunto a parte não é? e por aí se listam as inúmeras justificativas que são capazes de minar qualquer vontade, mínima que seja, em um ser que por ventura algum dia na vida pensou em se tornar professor. E se fizermos o caminho contrário? Por exemplo:
Imaginemos uma situação perfeita: professores que gostem de dar aulas, alunos comportados, críticos na medida certa e interessados, salário que possa ser considerado digno para um professor. Será que seriam suficientes para que o ensino da Física  (podemos estender à outras disciplinas, claro!) sofresse a revolução que sempre queremos em nossos artigos?
Sinceramente? Acredito que não! Sabem por que?
Primeiro que ninguém nunca está satisfeito com nada, é tradição do ser humano sempre ter algo a se reclamar. É muito mais fácil ser infeliz do que feliz, Ser feliz necessita de muita coragem e não é pra qualquer um! É direito de todos? Lógico! Mas só os corajosos exercitam seu direito. Fazendo uma analogia científica, a entropia sempre se manifesta de forma natural enquanto a organização despenderia grande quantidade de energia, não é? 
Mas o que realmente me parece como ponto de questionamento é que, será que os professores REALMENTE entendem o porque e a importância da disciplina que leciona? Mas é entender MESMO... não é usar o discurso porque falaram que tinha que ser assim. E mais, será que REALMENTE ACREDITAM que um trabalho contextualizado ajudaria o aluno a COMPREENDER além do conteúdo, seu papel de cidadão crítico e atuante?
Poxa, porque, se nem eu como professor entender e acreditar nisso, como posso querer que meu aluno entenda e queira aprender o que ensino?
Não seria prepotência e mesquinharia de minha parte? Não é?
Então, penso que, não tenho que fazer meu aluno compreender a importância do que ensino, EU tenho que compreender e acreditar nisso, pois dessa forma, automaticamente procurarei meios de trabalhar o conteúdo a fim de alcançar meu objetivo e logicamente, farei com que meu aluno perceba sua importância e papel. Independente do salário, tipo de aluno, tipo de escola que atuo, etc.
Se não acredito, qualquer aula que eu der servirá, pois meu objetivo é apenas "transmitir" o conteúdo que me disseram que tenho que transmitir.
Viajei demais?

Um comentário:

  1. Suas inquietações são pertinentes e realistas. E entendo que o que você denomina de "o professor acreditar" na importância do que ele faz é um processo de politização quanto ao seu papel e uma compreensão gnosiológica que precisa ser permanentemente alimentada. Você viajou para um lugar que poucos querem ir...aquele lugar que exige coragem de dizer, de pensar, de desvelar o que o discurso pedagógico muitas vezes esconde. Muito bem!!!

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